Winka Dubbeldam acredita que há poder no povo.
Como intelectual pública, ela investiu seus esforços em pesquisar o conceito de design "de baixo para cima" em instituições acadêmicas como Columbia, Harvard e University of Pennsylvania - onde é agora diretora do departamento de arquitetura. Como diretora da empresa de Nova York Archi-Tectonics, ela demonstra como estes conceitos funcionam na teoria e na prática.
Entre a cadência consistente de reuniões com clientes e funções acadêmicas, Winka tem sido clara sobre o futuro das cidades, viajando e ministrando TED Talks. Seu projeto mais recente envolve um website bilíngue Mi Ciudad Ideal (My Ideal City), que a levou a Bogotá, Colômbia onde lidera esforços para documentar a opinião de centenas de milhares de residentes urbanos na esperança de entender melhor o que faz a "Cidade Ideal". ArchDaily conversou recentemente com Winka para discutir a fundação do projeto e como ele funciona.
Como “My Ideal City” começou?
Meu cliente Rodrigo Niño, de Prodigy Network, estava trabalhando com um desenvolvedor da Espanha. Eles desenvolveram uma torre financiada pelo público em Bogotá, levantando mais de $250 milhões com milhares de pequenos investidores, a nova classe média da Colômbia. Desde então foi um grande sucesso - na verdade, o maior projeto financiado pelo público no mundo - eles perceberam que o restante do centro de Bogotá também precisava de desenvolvimento. E este desenvolvimento poderia ser iniciado de baixo pra cima. Em outras palavras, "com o povo".
Rodrigo e eu discutimos primeiro a possibilidade de trabalharmos juntos em Bogotá. Depois que dei uma palestra lá, rapidamente percebemos ter mentalidades semelhantes. Logo depois disso, fui arquiteta líder da iniciativa My Ideal City.
É realmente um desafio dos sonhos. Eu propus uma equipe de especialistas a Rodrigo, a reuni em encontros semanais e comecei desenvolvendo o website. Rodrigo teve a ideia de envolver uma estação de rádio de língua espanhola com programas matinais, um momento perfeito quando as pessoas estão se deslocando. O rádio foi uma grande maneira de iniciar a conversa, de começar a compartilhar a ideia de iniciativas urbanas financiadas pelo público.
Então, por exemplo, junto com PSFJ (especialistas em tendências e público), fizemos "perguntas da semana", encorajando o público a visitar nosso site e compartilhar suas ideias de como seria uma cidade ideal.
O retorno foi incrível. Em certo ponto, um membro da equipe notou "Uau! Temos mais de 80.000 pessoas com respostas". Chegamos a 130.000 uma semana depois quando eu chequei. Nós então derivamos tendências do número incrível de respostas. Isso é ótimo porque podemos ver o que as pessoas realmente pensam sobre questões urbanas, permitindo entender a opinião pública em grande escala.
Qual é o papel do arquiteto em um projeto financiado pelo público? O projeto é deixado para o público?
As pessoas, em última instância, confiam em especialistas. Não querem que você, o arquiteto, se sente e faça o que eles dizem pois, é claro, você não pode ouvir centenas de milhares de opiniões. Assim, o que fazemos é realmente estudar essas tendências e também responder com propostas. É realmente um feedback que vai e volta. Não são pessoas nos dizendo o que fazer; isso nunca funcionou. Seria como se você visitasse um médico e começasse a lhe dizer o que fazer para curar sua doença.
Não é isso que o público quer. Eles querem projetos bem sucedidos, bem projetados e pensados pelos arquitetos, levando em consideração as necessidades do cliente. É uma relação típica entre arquitetos e seus clientes, só que neste caso nosso cliente é o público - um esforço financiado pelo público.
Realmente não é muito diferente, só bem mais interessante.
Além disso, é em uma escala diferente. Normalmente trabalhamos em um único edifício com um cliente, agora estamos trabalhando em todo o centro de uma cidade. Então, precisamos de mais entrada. As pessoas tem uma leitura melhor do que acontece com suas vizinhanças e cidades do que o governo. Assim, nossa abordagem não é "de cima para baixo" mas "de baixo para cima".
O modelo “My Ideal City” irá se estender para cidades além mar?
Apresentamos recentemente My Ideal Cities em Berlim, Alemanha em Aedes, uma das maiores galerias de arquitetura e pesquisa urbana da Europa, e eles diziam como isso seria um conceito incrível a ser implementado lá. Sendo do norte da Europa, não esperava este tipo de retorno.
Dito isso, vai certamente acontecer nos EUA. O governo federal acabou de aprovar um regulamento que faz com que o financiamento pelo público seja algo que pode começar aqui também. Quando acontece, há um aspecto de regulamentação que dita como fazer isso - como bancos, na verdade. Mas isso acabou de ser aprovado, então será interessante ver como se desenvolve no futuro próximo.
Como atual moradora de Nova York, espero que possamos começar a conversar sobre o que nós, como público, queremos ver em nossa cidade e participar ativamente desse crescimento.
Que conselho você dá a seus estudantes de arquitetura interessados em abordar questões urbanas?
Estudantes tendem a pensar que precisam se transformar em função de uma questão, em função de tendências. Você precisa encontrar o que lhe interessa; estar ciente disso, estudar intensamente e ser rigoroso. Ao fazer isso, podemos nos tornar ótimos consultores e membros inovadores.
Os arquitetos são bons não em simplesmente gerar dados, mas em lhes dar forma. Isso é importante. O momento em que você começa, por exemplo, a mapear o tráfego - você está em apuros. Há uma barreira crítica que você deve entender; como um especialista você tem responsabilidades diferentes das que as pessoas gostariam de lhe dar. Você tem um projeto, e então você deve se perguntar qual é a real questão, ao invés de apenas responder aquelas aceitas. Este tipo de pensamento crítico, esta espécie de "auto edição" é tão crucial quanto o fato de você querer se tornar um especialista em arquitetura.
Visite o website oficial de My Ideal City. Saiba mais sobre a maior torre financiada pelo público do mundo.